Cinema, cinema, política à parte?

Política. Do inglês, politics; do francês, politique; do grego, politikos. Aristóteles, em seu livro Política, afirma que o homem é por natureza um animal social, um animal que sabe discernir o certo do errado e se vê impelido a se socializar, a se relacionar com o próximo. E isso deveria ser a política, a preocupação com seu próximo, com a sociedade em que você vive.

Desde a sua criação até os dias de hoje, o cinema sempre andou lado a lado com a política, questionando, afrontando, escarnecendo ou “apenas” alegrando as pessoas em tempos difíceis.

Por isso os convido a viajar comigo ao longo da história do cinema o observando em sua essência. Qual essência? A de dar vozes a questionamentos, a de tentar entender a sociedade e tentar fazer o seu melhor aflorar ou que o seu pior nos envergonhe. Nos filmes e livros, você pode encontrar todos as respostas ou questionamentos que deseje. Se não encontrou, só há dois motivos: ou você não procurou direito, ou está na hora de você fazer esses questionamentos ou respostas ganharem luz.

 

A MULHER FAZ O HOMEM (1939)

James Stewart em Mr. Smith Goes to Washington

Ah! A década de 30. O cinema em seu estado mais cru, bruto e mesmo assim com tanta alma, força e profundidade, atores aprendendo na prática, o cinema ganhando voz… E A Mulher faz o Homem não é diferente.

Filme de Frank Capra conta a história de um ingênuo jovem que é colocado no lugar de um senador que havia morrido. Acreditavam que um jovem inexperiente não questionaria contravenções que eles exerciam. Todavia, Mr. Smith, interpretado por James Stewart que mais tarde ficaria conhecido pelo seu heroísmo nos filmes de Hitchcock, representa toda essa ingenuidade das crianças, apaixonado pela política e o poder de mudanças que ela proporciona e esperando sempre o melhor das pessoas. Conforme ele mesmo afirma no filme, sempre vendo como se estivesse saindo do túnel e vendo a luz.

Precisamos de mais Mr. Smith não só nos nossos governos, mas em todos ramos da vida. Uma pessoa sem ganância, que luta pelo certo. O filme instiga a nossa criança interior, inocente, se aflorar. Todavia, também mostra que não podemos fazer nada sozinho. Mr. Smith podia passar horas discursando, como ficou, mas sem o auxílio a todo momento de Clarissa (daí o título em pt) e dos pequenos escoteiros, ele não conseguiria mover uma palha. Por isso, queridos cinéfilos, juntai-vos para lutar por um mundo melhor, vote consciente, busque votar em um Mr. Smith, busque ser um Mr. Smith, uma Clarissa (Jean Arthur), um pequeno escoteiro.

 

O GRANDE DITADOR (1940)

Chaplin, Chaplin, Chaplin. Um dos pioneiros e vanguardistas no mundo do cinema que começou com o cinema mudo e mesmo a chegada do som, não o atrapalhou nessa empreitada de questionar e fazer arte (no bom sentido). Porém, em O Grande Ditador, ele se viu obrigado a quebrar esse silêncio, indignado e perplexo com o rumo que o mundo seguia, ele critica o todo tipo de ditadores da época e faz um dos mais tocantes e grandiosos discursos de todos os tempos. Isso mesmo, sem medo de Hitler ou Mussolini, ele os chama a todo momento de vaidosos e possessivos, como a clássica cena de Hitler brincando com o globo terrestre.

Não há palavras pra traduzir esse filme, com um discurso como esse em pleno começo da 2ª GM.


DR. FANTÁSTICO (1964)

Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb


O filme Dr. Fantástico, um dos clássicos de Stanley Kubrick, que nasceu em plena Guerra Fria, e nem por causa disso teve medo de questionar a conjuntura que se encontrava. Trata-se da história de um general americano que ordena o ataque à Rússia com a prerrogativa que eles não ataquem antes.

Ao tocar em temas como guerra, não tem como deixar de lado alguns questionamentos: Qual o valor da vida? Uma vida vale mais do que a outra? Por que lutar uma luta que não é a minha? Outras grandes obras também trouxeram esses questionamentos, como Full Metal Jacket do próprio Kubrick e Watchmen de Alan Moore.

Em termos técnicos, não posso deixar de exaltar Peter Sellers (o antigo Pantera Cor de Rosa) que possui 3 papéis, e os exerce de maneira primorosa e única.

 

UM DISTINTO CAVALHEIRO (1992)

Thomas Jefferson Johnson: Terry, tell me something. With all this money coming in from both sides, how does anything ever get done?

Terry Corrigan: It doesn’t. That’s the genius of the system.” 

– Trecho do filme The Distinguished Gentleman (1992)

 

Longe de ser um clássico do Eddie Murphy, o filme de 92 traz uma releitura do clássico de 39 já citado acima. Nesse caso, o jovem em questão não tem nada de inocente, pelo contrário, trata-se de um trambiqueiro de primeira linha e que resolve elevar seu nível. E como ele poderia fazer isso? Claro, se tornando um político. Em Washington, ele se sente em casa, rodeado por golpistas de todas estirpes, que pouco se importam com aqueles que os elegeram, mas apenas com seus bolsos cheios.

 

MERA COINCIDÊNCIA (1997)


Como eu adoro esse filme. Um filme, como todos citados aqui, atemporal. Em resumo, mostra o que é a verdadeira propaganda política. Nada dessas palhaçadas de mentiras sendo contadas na televisão e que ninguém dá a mínima. A propaganda política vai muito além disso.

Robert De Niro possui apenas uma função, limpar a imagem do presidente para as eleições, após ter sido acusado de abuso sexual. Devido à dificuldade da tarefa, ele se junta a um famoso produtor de filmes (o inspiradíssimo Dustin Hoffman) para poder “fabricar” uma guerra e encobrir a situação atual.

O filme conta com atuações primorosas dessa dupla e de Anne Heche, participações de Kirsten Dunst, William H. Macy, Woody Harrelson e uma trilha sonora impecável e totalmente inserida no contexto da história, boa parte graças ao imortal Willie Nelson, cantor de country conhecido por diversas músicas, entre elas On the Road Again.

P.S.: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.


ELEIÇÃO (1999)

Reese Witherspoon e Mathew Broderick em Eleição (1999)


Em tempos de eleições, vemos nossos sentimentos de cidadão aflorados (ou pelo menos devíamos). Deveríamos sentir orgulho quando vemos pessoas de idade votando, buscando o melhor não só para eles, mas para toda a sociedade. O voto é muito importante, não temos o direito de brincar com a vida de outros, e até com a nossa própria.

Esse é o grande barato do filme Election, que por ter sido lançado também em 1999, nos faz querer compará-lo a Beleza Americana no que diz respeito às mentiras, o desejo do homem mais velho pela aluna. Todavia, o filme tem sua individualidade também, e uma delas, sem sombra de dúvidas, é a excelente atuação da, então jovem (23 anos), Reese Witherspoon, o que lhe proporcionou nada mais, nada menos do que uma indicação ao Globo de Ouro (coisa de nada). Além disso, o filme, como o próprio título indica, toca no tema eleição.

Embora, seja abordado uma votação em uma escola, o filme consegue mostrar uma candidata determinada a fazer tudo o que for possível para poder vencer, além de eleitores que não dão a mínima para o que está acontecendo. Eu tenho certeza que vocês não gostariam de uma Tracy governando sua cidade, estado, país, o que for.


MENSAGEM FINAL

Tente buscar seu Mr. Smith interior, lute para que grandes ditadores não cheguem ao poder, para isso, não acredite em meras coincidências ou em distintos cavalheiros para não ter medo mais tarde de bombas. Por isso, em todas eleições, faça sua parte e vote consciente. 

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