No meu longo tempo de convívio com os humanos, aprendi hábitos interessantes, peculiares, assustadores, intrigantes, malucos... Um desses hábitos é o de deixar para homenagear as pessoas depois que elas partiram dessa para uma melhor ou pior (nunca se sabe). Isso me deixou meio encucado por um longo tempo até que decidi, por que não homenagear/falar dos feitos de uma pessoa enquanto ela ainda está viva (outras não esperaram eu tirar essa ideia do papel, então eu vou ter que homenagear gente morta também, é a vida)?! Por isso começa nesse lindo Domingo ou qualquer outro dia que você esteja lendo isso (eu posso estar morto quando você está lendo isso, maluco isso, inception) a série Diretoria. Assim, sempre que você ler Diretoria sabe que estarei falando da carreira de alguém que colocou a cara a tapa e fez a diferença em alguma área e que eu esteja a fim de falar.
O primeiro da série é ninguém mais ninguém menos que nosso pequeno simétrico Wes Anderson.
- Por que ele primeiro?
- Boa pergunta astuto leitor.
- Obrigado, as pessoas costumam me chamar de astuto mesmo. Na verdade... - disse o leitor astutamente sendo interrompido pelo inigualável Oitavo Anão.
- Atah, interessante. Senta lá, Cláudia.
A verdade é que não tem um porquê do Wes Anderson ser o felizardo de hoje não, eu poderia falar que faz 20 anos do seu primeiro filme, mas foi coincidência, eu só decidi começar por ele, porque ele não tem muito filme e seria mais fácil fazer o post. Esta é a verdade. Mas Wes Anderson merece esse prêmio sensacional que é fazer parte da Diretoria do Oitavo Anão por vários motivos. O querido Wes é um diretor/roteirista incrível que consegue fazer mais que filmes, mas obras de arte.
Como muitos outros, Anderson é um daqueles diretores que deixam sua marca no filme que estão fazendo. Todos ou boa parte deles possuem um padrão, ou seja, pra fazer um filme a lá Wes você vai precisar de:
1. Muito paradoxo: cubra um tema dramático com camadas de comédia. Usa-se uma cobertura bem colorida, mas não deixe muito brilhante, use filtros mais foscos, embaçados.
2. Quando se trata de um bom diretor, você precisa ter seus atores de preferência: nessa parte da receita não é recomendável inventar, vá no seguro, um pouquinho dos irmãos Wilson, um ator prodígio nunca faz mal, por isso use o Jason Schwartzman, não tem problema, e pra colocar muitos sorrisos no rosto do espectador não tem como errar, vá de Bill Murray.
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Irmãos Wilson e Wes Anderson |
3. Folk, Rock Inglês pra dar o tema.
4. A cobertura precisa ter uma simetria perfeita para sair bonito na foto.
5. A fórmula mágica: 4 em cada 5 filmes use essa fórmula.
- 5.1. Cigarro: uma marca do cinema e do seu pulmão, o tubo de câncer branco sempre esteve presente nas telinhas e telonas, seja classe, elegância, vício, rebeldia, marca para mafioso ou detetive de filme pulp, entre muitos outros motivos. Porém, nos filmes do Wes eles estão de volta dando uma ideia de depressão, fragilidade emocional.
- 5.2. Personagens sem expressão: não, não estou falando de atores sem expressão (não preciso citar nomes, vocês sabem quem são), mas personagens sem expressão, mas apesar disso são profundos, com sentimentos, problemas emocionais...
- 5.3. Uma pitada de personagens nerds: não no sentido vasto de hoje em dia, mas no sentido antigo, aqueles que eram meio excluídos, não se encaixam na sociedade, são peculiares, vivem em um mundo à parte, sempre com ideias malucas, mas também sempre habilidosos em alguma área.
- 5.4. Relacionamento impossível: o que seria do cinema e da literatura sem os romances impossíveis?! O que seria de Shakespeare?! Mas bem que podiam dar uma facilitada pra mim, parece que tô jogando no modo hard.
- 5.5. Relacionamento em crise: como as estradas brasileiras, os relacionamentos além de possuírem barreiras, também são cheios de altos e baixos. E por que não falar quando o relacionamento é aquele pneu que não conseguiu fugir do buraco e tinha um baita de um prego lá dentro?!
- Não saia espalhando para todo mundo, mas cá entre nós acho que é o motivo do sucesso - disse sussurrando.
E o ingrediente secreto é talento. Sabe aquele chocolate gostosinho, simétrico (tá explicado).
Pequeno Wes
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Pequeno Wes e pequeno Owen |
Toda história começa quando um pequeno sonhador que morava na capital do estado conhecido pela indústria automobilística, rodeio e quando a coisa fica feia no espaço, resolve desenvolver mais seu lado pensador na Universidade do Texas. Nessa instituição de ensino, o pequenino Wes acaba se deparando com um jovem sorridente e paquerador de nariz quebrado. Seu nome era Owen Wilson.
Os pequenos sonhadores tinham uma paixão em comum, o cinema. Sempre que podiam, eles estavam escrevendo e filmando alguns curtas. Um deles em especial chamado Bottle Rocket acabou participando do festival de Sundance. O resultado, um investimento suficiente para o primeiro filme deles ser produzido. O resto é história.
Pura Adrenalina (1996)
O primeiro filme tanto de Wes Anderson quanto do Owen Wilson conta a história de 3 amigos elaborando um plano de roubo ao bom e velho estilo 11 homens e 1 segredo. A história é bem divertida lembrando um pouco As Loucuras de Dick e Jane. Nesse filme, Wes já chegou apresentando seu modo peculiar de contar uma história com seu drama travestido de comédia. Porém, a fotografia ainda não era a que conhecemos hoje.
Vamos a receita pra ver se tudo confere:
1. OK: um filme que aborda temas como problemas mentais, problemas de relacionamento com a família e relacionamento a lá espanglês não pode ser considerado de certa forma leve, mas o diretor consegue dar uma leveza através da comédia.
2. OK: irmãos Wilson
3. Ok
4. Ainda não
5.
- 1. OK
- 2. nope
- 3. OK: todos os 3
- 4. OK: relacionamento entre Anthony (Luke Wilson) e Inez (Lumi Cavazos)
- 5. nope
6. OK: nunca falta
Três é Demais (1998)
Três é Demais ou Rushmore também conta com a dupla WW (Wes-Wilson) no roteiro e trata de um garoto especial, que participa de todos grupos extracurriculares de sua escola, mas não consegue se dar bem nas matérias, que acaba se apaixonando por uma professora de sua escola (e quem não se apaixonaria por Olivia Williams?!) e faz de tudo para poder conquistá-la.
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Olivia Williams FUMANDO e Jason Schwartzman |
2. OK: Bill Murray e Jason Schwartzman
3. Ok
4. Ainda não, no próximo quem sabe.
5.
- 1. OK
- 2. nope
- 3. OK: Max Fischer e seu amigo Dirk (Mason Gamble)
- 4. OK: relacionamento entre Max (Jason Schwartzman) e Rosemary (Olivia Williams)
- 5. OK: relacionamento do Herman (Bill Murray) com a mulher dele
6. OK: é talento que não acaba mais. Um dos meus filmes preferidos dele e muito se deve também pelo talento de Jason Schwartzman. Conquista todo mundo.
Curiosidade: a escola em que se passa o filme foi a mesma frequentada pelo pequeno Wes.
Os Excêntricos Tenenbaums (2001)
E tudo começou... Em Os Excêntricos Tenenbaums, cada cena, cada quadro se você observar atentamente no canto direito tem uma assinatura com o nome Wes Mestre Anderson. Não tem como negar que não é um filme dele. De novo falando sobre relacionamento, dessa vez com foco no relacionamento familiar.
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Família Tenenbaum |
1. OK:
2. OK: irmãos Wilson e Bill Murray
3. OK: Margot fuma que nem uma chaminé, deixando evidente sua depressão e fragilidade emocional.
4. OK: agora que abriu a porteira do mundo mágico da fotografia by Wes Anderson, não tem como fechar novamente.
5.
- 1. OK
- 2. OK: Margot
- 3. OK: os 3 filhos
- 4. OK: relacionamento entre Richie (Luke Wilson) e Margot (Gwyneth Paltrow)
- 5. OK: Royal (Gene Hackman) e Etheline (Anjelica Huston, a Morticia)
6. OK
A Vida Marinha com Steve Zissou (2004)
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Jacques Cousteau e Steve Zissou |
1. OK: novamente o relacionamento pai e filho é tema de um filme do Wes Anderson. Talvez o fato de seus pais terem se separado quando ele ainda era criança seja a maior fonte de inspiração para ele.
2. OK: Owen Wilson e Bill Murray
3. OK com K maiúsculo. Falando em homenagem a pessoas vivas, Wes Anderson trouxe ninguém mais ninguém menos que Seu Jorge pra fazer sua versão das músicas do eterno David Bowie. Em uma versão mais leve, puxado pro folk/mpb, dando um ar de música com os amigos em volta da fogueira.
4. OK: Wes começou a ousar, abusando dos travellings, evitando ao máximo o uso de cortes e aproveitando ao máximo o cenário do navio cortado ao meio.
5.
- 1. OK: cachimbo serve?!
- 2. nein
- 3. OK: todos os tripulantes
- 4. OK: relacionamento entre Ned (Owen Wilson) e Jane (Cate Blanchett)
- 5. OK: relacionamento do Steve Zissou (Bill Murray) e Eleanor (Anjelica Huston)
6. OK: nunca falta
P.S.: Vale ressaltar a atuação do Willem DaFoe que está hilária. Confira um pedacinho abaixo:
P.S.: Vale ressaltar a atuação do Willem DaFoe que está hilária. Confira um pedacinho abaixo:
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